Publicado em 27 Abr. 2021 às 13:47, por António Quintas, em Notícias de televisão e séries (Temas: Primeiro olhar, Indústria cinematográfica)
A Lionsgate confirmou o desejo de explorar todas as propriedades intelectuais a que possa deitar a mão.
Kevin Beggs, presidente da Lionsgate TV confirmou numa entrevista à Deadline que está em desenvolvimento uma versão série de "American Psycho", baseada no livro de Bret Easton Ellis. Em estudo, mas não oficializado, está o projeto de adaptação para série de "Saw", uma das mais longas franchises de terror que já se aproxima da dezena de filmes.
A versão serializada de "American Psycho" sucede à adaptação para cinema estreada em 2000 onde Christian Bale interpretava o yuppie das fusões e aquisições, fã de Huey Lewis and the News, snob dos cartões de visita e assassino em série nos tempos livres.
Em produção, está também um spinoff de "John Wick" intitulado "The Continental", que desenvolve a narrativa do hotel que serve de santuário às violentas personagens daquele universo narrativo.
Beggs chama a este aproveitamento uma estratégia 360º de exploração de propriedades intelectuais. O nome é pomposo e pouco tem de original. Na prática, significa sobreviver num ambiente onde Netflix, Disney e restantes gigantes estão envolvidos num combate de atrito, volume e muito investimento. Consiste em abrir canais de comunicação entre as divisões da empresa que produzem cinema, televisão, teatro, ou qualquer outro género de entretenimento, juntar as propriedades intelectuais de cada uma delas - ou seja, os direitos detidos sobre qualquer marca, ideia, conceito, personagem, ou história - e desenvolver novos produtos a partir delas, neste caso filmes, ou séries de televisão.
Não é original, porque copia o que a Marvel iniciou com o seu MCU, o universo cinematográfico que, entretanto, se estendeu às séries. Mas difere porque a Lionsgate trabalha numa dimensão menor e com personagens e histórias menos populares.
Onde a Lionsgate também se destaca é no destino dessas produções. A resistente "mini major" já viu o fim de muitas congéneres desde que nasceu em 1997, no Canadá. Teve um crescimento lento através de aquisições e parcerias e, até ao presente, conseguiu sobreviver a sucessivos rumores de compra por parte de companhias maiores (o mais recente envolveu a Hasbro).
Sem plataforma própria de streaming, e com apenas um canal de televisão, o Starz, a Lionsgate vê uma oportunidade na atual situação em que os grandes estúdios fornecem conteúdos diretamente ao consumidor, e onde a Netflix, sem estúdios próprios, funciona como enorme sorvedouro de recursos e ideias.Isto deixou os canais tradicionais, lineares, ou por cabo, sedentos de conteúdos e de alguém que substitua os antigos fornecedores, agora mais interessados no próprio umbigo.
Um cenário que serviu à Lionsgate que duplicou o número de séries originais em produção, das 12 de 2020 para 24 este ano, com seis dos títulos lançados no ano passado a seguirem para a segunda temporada ("Love Life", "Zoey"s Extraordinary Playlist", "Mythic Quest", "Power Book II: Ghost", "P-Valley", "Hightown"), e luz verde para três novas séries nos grandes canais tradicionais,"Home Economics" para a ABC, "This Country" para a FOX e "Ghosts", para a CBS.