Cartaz de cinema

Al-Andaluz, O Legado: a partir de sábado, 24 de abril no canal História

Publicado em 23 Abr. 2021 às 12:34, por filmSPOT, em Notícias de televisão e séries (Temas: Estreias)

Al-Andaluz, O Legado: a partir de sábado, 24 de abril no canal História

Ao longo de seis episódios, a série analisa as marcas da presença islâmica na Península Ibérica e o seu legado no mundo moderno, para redescobrir conhecimentos, tecnologias, objetos e costumes que devemos ao período andaluz.

Al-Andaluz foi, durante séculos, um foco de civilização graças aos conhecimentos vindos do Oriente e às suas próprias descobertas e contribuições. Marcou um antes e um depois na Península Ibérica, mas a sua cultura, costumes e influências não se extinguiram, ainda estão presentes.

Com esta premissa, a partir do próximo sábado, 24 de abril às 22h15, o Canal História estreia "Al-Andaluz, O Legado" que, ao longo de seis episódios, recua ao passado para resgatar a herança andaluza na Península Ibérica e ajudar a entender melhor como funciona o mundo de hoje. Um trabalho que contou com a participação de mais de 80 especialistas incluindo Maribel Fierro, Professora Investigadora do Instituto de Línguas e Culturas do Mediterrâneo e do Médio Oriente do CSIC, e Waleed Saleh, Professor de línguas e literaturas árabe na Universidade Autónoma de Madrid. O trabalho de documentação e pesquisa histórica foi apoiado por acordos de colaboração com instituições públicas como a Escola de Estudos Árabes de Granada do CSIC, FUNCI e a Casa Árabe.

Com recurso a recriações e animações 3D, a série desvenda um período de especial esplendor caracterizado pelo intercâmbio cultural e convivência entre o Oriente e o Ocidente. O seu exemplo de coexistência entre muçulmanos, cristãos e judeus e o florescimento de diferentes ciências e artes permitiu-lhe ser o berço de estudiosos em disciplinas diversas como a arquitetura, agronomia, matemática, astronomia e medicina. Uma era de génios comparáveis a Leonardo Da Vinci, o primeiro voo da humanidade, o desenvolvimento da cirurgia, as origens da  tecnologia moderna, as influências culinárias, o legado arquitetónico, literário e artístico que originou não apenas lugares emblemáticos como a Alhambra, Medina Azahara, ou a Mesquita de Córdoba, mas também riquezas menos conhecidas como os moinhos de água, de papel e de vento, as grandes noras de água, carruagens, jardins, ou sistemas de canalização.

Realizada integralmente durante a pandemia, num esforço de quase 60 dias de gravação durante três meses e centenas de horas de imagens recolhidas em locais históricos como a Torre de Calahorra, os Banhos do Alcácer do Califa, ou os Jardins Alcázar de los Reyes Cristianos, em Córdoba, a série aproxima-nos dos sábios andaluzes através de recriações históricas com trajes de época concebidos para o projeto.

Os sábios

Abbas Ibn Firnas

De origem berbere, nasceu no século IX, na atual Ronda (Málaga). Foi poeta, matemático, físico, astrónomo, filósofo, músico, e considerado um bom geómetra, mas, acima de tudo, foi um inventor, sendo conhecido por criar uma esfera armilar, um planetário e um relógio de água. Mas sem dúvida a sua maior realização e aquela pela qual é mais conhecido entre a comunidade científica é por ser a primeira pessoa a fazer uma tentativa real de construir uma máquina voadora.

No século IX, desenhou e construiu um engenho alada, com forte semelhança à asa delta dos tempos modernos. Durante a sua mais famosa tentativa de voo, em Córdoba, Ibn Firnas conseguiu voar durante alguns segundos antes de cair ao chão e partir ambas as pernas. É considerado um dos pioneiros da engenharia aeronáutica e produziu estes desenhos seiscentos anos antes de Leonardo Da Vinci construir o primeiro protótipo de "pássaro" voador, em Itália.

Al Zahrawi

Médico cordovês dos séculos X-XI. Considerado o pai da cirurgia moderna e o cirurgião mais importante da Idade Média. No seu trabalho estão representados mais de 150 instrumentos cirúrgicos e algumas características dos seus desenhos, mil anos após a sua morte, ainda se assemelham a instrumentos utilizados hoje em dia.

Embora o seu legado em cirurgia seja o mais reconhecido, na sua grande enciclopédia médica, 'Kitab al-Tasrif', também deixou importantes conhecimentos nos campos da Odontologia, Traumatologia, ou Obstetrícia. Os seus livros foram utilizados para ensinar em universidades europeias durante mais de 500 anos após a sua morte.

Ibn Al-Awwam

Ibn al-Awwam viveu na região de Sevilha, no século XII, e foi um dos expoentes máximos da grande escola de agrónomos que promoveu a revolução agrícola na Península Ibérica durante o período andaluz.

Foi um dos autores que escreveu com o maior detalhe sobre a agricultura no tratado intitulado 'Kitab al-Filaha' (Livro da Agricultura). Este trabalho enciclopédico, tanto teórico como prático, contém conhecimentos os agronómicos andaluzes do seu tempo. A importância e interesse dos conhecimentos contidos neste tratado reflete-se no facto de os governantes espanhóis dos séculos XVIII e XIX se terem debruçado sobre este livro, com mais de 500 anos de idade, para revitalizar a agricultura da época. A obra foi publicada em dois volumes em 1802 e, em 1988, o Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação financiou uma nova edição.

Azarquiel

Este homem da Toledo do século XI foi um autodidata nascido numa família de ourives que, através da observação e de uma personalidade obsessiva e perfeccionista, conseguiu alcançar o cume do conhecimento e tornar-se um dos astrónomos mais importantes do seu tempo. Contribuiu grandemente para a criação das Tabelas Astronómicas de Toledo que mais tarde se tornariam a base das Tabelas Alfonsinas e aperfeiçoou o astrolábio, criando a azafea que, além de permitir encontrar o rumo, conhecer a hora do dia, ou calcular a altura dos edifícios, também podia ser usado a partir de qualquer latitude.

Azarquiel estabeleceu que a órbita deferente de Mercúrio tinha forma aproximadamente oval semelhante à forma de um pinhão, fazendo dele a primeira pessoa na história a descrever uma órbita de um modelo de Ptolomeu de forma não circular. Vários séculos mais tarde, Kepler deu-lhe razão com as suas leis sobre o movimento dos planetas. Azarquiel foi um pioneiro e um dos astrónomos mais importantes da história da Península Ibérica.

Ziryab

Ziryab, ou "pássaro negro" como também era conhecido, chegou de Bagdade à corte de Córdoba do Emir Abderrahman II no século IX e revolucionou a sociedade e os costumes da época. Para além de músico e poeta, foi também músico, astrólogo e célebre na introdução de novos pratos gastronómicos. Ziryab provocou uma autêntica revolução não só no campo da música e da gastronomia, mas também no campo da moda, ditando novas tendências no vestuário, penteados e na ornamentação.

A Ziryab devemos em parte o facto de os pratos serem servidos à mesa numa determinada ordem, como a conhecemos hoje - primeiro as sopas e os caldos, depois os pratos principais e, finalmente, as sobremesas. Também estabeleceu um calendário de moda que estabelecia a forma de vestir de acordo com a época do ano. Foi também um músico famoso que introduziu o alaúde de cinco cordas e fez grandes contribuições para a música andaluza.

Abderraman III

Abderraman III foi o primeiro omíada, que no século X, proclamou um califado independente em Al-Andaluz. Os cronistas descrevem-no como personagem cruel que passou a primeira metade da sua vida a travar uma guerra para derrotar os seus inimigos no seu próprio território e empurrar os cristãos para norte.

Como governante, viu que o futuro de al-Andaluz estaria ligado à cultura, para o qual dirigiu o filho, al-Hakam. Além de construir uma das extensões da Mesquita de Córdoba, Abderraman III foi o fundador de uma das mais majestosas cidades jamais vistas em al-Andaluz: Medina Azahara. Uma cidade que se tornaria o símbolo do poder do califado e cujos restos ainda hoje podem ser vistos.

Wallada bint Al-Mustakfi

Wallada bint Al-Mustakfi, princesa e poetisa omíada que viveu em Córdoba no século XI. Dedicou a sua vida ao mundo da cultura e os seus encontros com escritores da época ficaram bem documentados. Diz-se que foi uma mulher confiante e determinada, lembrada pelo papel ativo na sociedade apesar das limitações da sociedade medieval patriarcal em que viveu. Vários dos poemas de Wallada foram preservados. Através deles, Wallada manifesta-se como uma mulher livre e liberal para o seu tempo.

Episódios

Episódio 1: Tecnologia e Engenharia Mecânica

24 de abril, às 22H15

A sociedade do século XXI está cimentada, em grande parte, nos alicerces da engenharia e da tecnologia. O que poucos sabem é que a base de muitas invenções e engenhos que utilizamos diariamente já eram conhecidos há mais de mil anos, no período Al-Andaluz. Neste episódio, descobriremos que os habitantes da Península Ibérica trouxeram do Oriente tecnologias como a nora, ou a pólvora, um composto químico que mudou a guerra para sempre. Além disso, também desenvolveram mecanismos automáticos que continuam a influenciar a robótica dos nossos dias.

Episódio 2: Medicina e Farmácia

24 de abril, às 23h00

A medicina que conhecemos hoje em dia seria muito diferente sem o legado de Al-Andaluz. Na Península Ibérica eram aplicados conhecimentos médicos que continuam a surpreender dez séculos depois. Em plena Idade Média, comprovaremos que os andaluzes eram capazes de operar cataratas, sabiam como cauterizar hemorragias internas e até se atreviam a realizar intervenções no âmbito da cirurgia estética. Em farmacologia, os andaluzes também não ficaram atrás. No século XI, Ibn Wafid reuniu no seu Guia Médico mais de 900 receitas médicas que propunham tratamentos para uma série de doenças. A eficácia foi tal que muitos desses medicamentos ainda são prescritos hoje.

Episódio 3: Agronomia

1 de maio, às 22h15

Muitas das frutas e legumes que consumimos diariamente chegaram pela mão dos muçulmanos que habitaram na Península Ibérica durante quase oito séculos. Além disso, revolucionaram a forma de cultivar e regar as terras da atual Espanha e Portugal. Por exemplo, foram eles que implantaram a rega gota-a-gota, uma técnica de gerir a água de forma sustentável que, hoje em dia, é utilizada em grande parte do planeta.

Episódio 4: Matemáticas e Astronomia

1 de maio, às 23h00

As ciências exatas viveram uma autêntica revolução durante o reinado de emires e califas na Península Ibérica. Do Oriente chegou a Al-Andaluz a trigonometria, o cálculo sexagesimal, os algoritmos e a álgebra. Graças a esses conhecimentos, dispomos hoje em dia de aplicações nos nossos telemóveis, desfrutamos de videojogos e de dispositivos GPS, que nos indicam como chegar ao local desejado, e conseguimos pôr os satélites numa posição exata no espaço. Descobriremos que, no século XII, o geógrafo de Ceuta al-Idrisi foi responsável por fazer um dos primeiros mapas mundiais da história e que durante esse tempo utilizaram um dispositivo chamado astrolábio que os ajudava a orientar-se, podia ser utilizado como um relógio e também serviu para medir as alturas de torres ou grandes construções.

Episódio 5: Cultura e Costumes

8 de maio, às 22h15

Os andaluzes, que viveram quase oito séculos, deixaram uma marca profunda nos usos e costumes dos atuais habitantes de Espanha e de Portugal. A gastronomia ibérica seria completamente diferente sem a herança de Al-Andaluz. A eles devemos uma grande variedade de ingredientes usados na cozinha espanhola e portuguesa. Sem limões, pêssegos, beringelas, alcachofras, arroz e açúcar, seria impossível preparar os pratos fundamentais da nossa cozinha. Além disso, foram os responsáveis pela chegada do papel, do xadrez, ou do cavalo árabe à Península, além de terem impulsionado a cultura musical espanhola, assentando as bases do que hoje em dia é o flamenco.

Episódio 6: Arquitetura e Arte

8 de maio, às 23h00

A Alhambra de Granada ou a Mesquita de Córdoba testemunham a grandeza da arquitetura em Al-Andaluz. Este episódio apresenta em detalhe estas duas riquezas emblemáticas da Andaluzia e mostra um segredo escondido durante séculos: o Pátio das Laranjeiras da Mesquita de Córdoba. Paragem obrigatórias também na cidade colossal criada pelo Califa Abderramán III: Medina Azahara. No que diz respeito à literatura, a maioria dos autores eram homens, mas em al-Andaluz também havia mulheres que se dedicavam ao mundo do conhecimento, eram copistas e escreviam poesia. Versos de alguns dos poemas escritos pela Princesa Wallada são lidos hoje como os de uma mulher à frente para o seu tempo.