Publicado em 13 Jul. 2013 às 14:55, por filmSPOT, em Notícias de cinema (Temas: Cinema Português)
O luso-francês Ruben Alves pegou numa típica família de emigrantes em França para criar a sua primeira longa-metragem. E construiu um enorme sucesso.
Abril de 2013. Na ante-estreia no Gaumont Marignan, em plenos Campos Elíseos, em Paris, dezenas de autênticas concierges (porteiras) de origem portuguesa acotovelam-se para pedir autógrafos a Joaquim de Almeida e ver o filme que, nas palavras de uma delas ao jornal francês Le Figaro, "fala de nós pela primeira vez".
Este "nós" de que fala a sexagenária à beira da retraite (reforma) é a primeira vaga de emigração portuguesa para França, durante a década de 60. Os que saíram do país a salto - clandestinamente, sem papéis - ou com a ajuda das preciosas lettres d'appel (cartas de chamada) que lhes garantiam um emprego.
Tipicamente, o homem ia trabalhar para a construção civil, a mulher para as limpezas, ou como porteira dos típicos edifícios Haussmann em Paris. Foi assim que nasceu o estereotipo que o luso-francês Ruben Alves explora no seu primeiro filme, "A Gaiola Dourada" (La Cage Dorèe).
Na noite da ante-estreia, Ruben dirige-se emocionado à plateia e dedica-lhes o filme. Mas entre os cerca de 200 convidados do Banco BCP - parceiro da campanha de marketing do filme - não existem apenas emigras de primeira geração.
O Le Figaro deteta algumas gravatas e, por detrás delas, os jovens descendentes, nascidos e criados em França, com outras aspirações e embebidos noutra cultura. Também eles estão presentes no filme, na pele dos filhos de José e Maria. Integrados na sociedade gaulesa, falam mais a língua de Vitor Hugo do que a de Camões, mas ainda são capazes de reconhecer algumas referências da pátria de origem dos progenitores.
Em "A Gaiola Dourada" José e Maria, um casal de emigrantes portugueses a viver em França há mais de 30 anos recebe uma carta que os informa da morte do irmão de José que lhe deixou em herança uma fortuna e uma vasta propriedade junto ao Douro que produz vinho do Porto. Habituados aos bons serviços de José e Maria, os inquilinos do edifício onde Maria tudo faz e José tudo desenrasca, unem-se para os convencer a ficar.
O realizador e o produtor Hugo Gélin, amigos de infância, recusam a ideia do clichê, ou a exploração da comunidade portuguesa em França.
A ideia inicial de Ruben era fazer um filme sobre franceses a viver em Lisboa. Foi Gélin e a sua sócia, Laetitia Galitzine, que convenceram o jovem realizador de que interessante e inovador seria filmar os portugueses em França - diz Ruben Alves numa entrevista ao jornal L'Express.
A sugestão demorou o seu tempo a entrar na mente do luso-descendente, até ao dia em que se deparou com uma reportagem que lhe daria o mote para o novo argumento: a história de uma porteira portuguesa, prestes a regressar ao país natal após 35 anos em Paris, mas que sentia algum receio por abandonar aquilo a que chamava "a sua pequena gaiola dourada".
Ruben Alves assumiu os clichés, a concierge e o maçon, mas não se limitou a explorá-los, foi mais além e usou-os como forma de analisar também a forma como os franceses viam os portugueses.
O filme estreou em finais de abril, em França e nos pequenos países em redor que usam o francês como idioma - Suíça, Bélgica e Luxemburgo.
Após um lançamento inicial em 240 ecrãs, o sucesso obrigou a aumentar esse número para mais de 400 salas. Não é ainda uma distribuição ao nível dos grandes blockbusters de Hollywood - que chegam a ultrapassar as 700 salas - mas anda lá perto.
Com a mobilização da comunidade portuguesa e o interesse de muitos locais, o filme foi visto, só em França, por 1,2 milhões de espectadores.
Ruben Alves construiu um sucesso inesperado a partir do nada.
Veja o trailer de "A Gaiola Dourada".
"A Gaiola Dourada" (La Cage Dourée) estreia em Portugal, a 1 de agosto.