Cartaz de cinema

"O Síndrome do Vinagre" por Samuel Andrade
10 raridades a descobrir no catálogo da Disney+

Publicado em 15 Set. 2020 às 19:13, por Samuel Andrade, em Opinião, Notícias de cinema (Temas: Síndrome do Vinagre)

10 raridades a descobrir no catálogo da Disney+

Com o lançamento da plataforma de streaming no nosso país, observamos as propostas mais interessantes que a Disney foi resgatar aos seus arquivos.

No dia em que a Disney+ passa a estar disponível para subscrição em Portugal, torna-se irresistível examinar o catálogo da plataforma, no sentido de compreendermos a diversidade de registos e contextos temporais no seio de uma oferta que abrange mais de 600 filmes.

Sem particular surpresa (sobretudo, pelo que tem acontecido nos países onde o serviço já foi lançado nos últimos meses), constata-se que o resultado do acordo entre a 20th Century Fox e a Disney, em 2017, ainda não encontra reflexo de monta, no que ao cinema diz respeito, no catálogo da Disney+. Por agora, não é possível perceber o que será disponibilizado a partir dos arquivos de um dos mais emblemáticos estúdios de cinema do século XX.

Paralelamente, falta profundidade no que toca à (re)descoberta do trabalho pioneiro dos estúdios fundados por Walt Disney. É verdade que obras históricas como "Steamboat Willie" (1928), "Elmer Elephant" (1936) e "Clock Cleaners" (1937) integram o catálogo da Disney+ para Portugal; no entanto, a maioria das curtas-metragens dos anos 30, protagonizadas pelo Rato Mickey, ou uma parte substancial da série de musicais animados "Silly Symphonies", não estão disponíveis. Uma possível explicação reside no conteúdo de alguns destes filmes, os quais, para o espectador moderno, podem assumir-se como datados, racistas e impróprios.

Não obstante, a Disney+ disponibiliza alguns títulos problemáticos nas suas versões originais, sempre com a advertência de que "pode conter representações culturais desatualizadas". É o caso, entre outros, de "A Dama e o Vagabundo" e a sua caracterização dos gatos siameses, inspirada nos estereótipos asiáticos da época de produção, ou de "O Livro da Selva", onde o número musical dos orangotangos tem sido criticado por formular uma caricatura das comunidades afro-americanas.

Mesmo com as falhas acima apontadas, a oferta da Disney+ tem o condão de permitir a descoberta de alguns clássicos raramente citados pela historiografia, ou mencionados no imaginário público. Selecionadas pela influência artística, legado cultural, ou sucesso crítico, aqui ficam dez raridades a espreitar no novo serviço de streaming da Disney.

"A Deusa da Primavera" (1934)

The Goddess of Spring

Singular representante da série "Silly Symphonies" agora disponível na Disney+, "A Deusa da Primavera" constituiu uma das primeiras experiências de animação da figura humana, sendo, aliás, considerado como um "tubo de ensaio" para o que Walt Disney concretizaria, em 1937, com "Branca de Neve e os Sete Anões".

"O Deserto Maravilhoso" (1953)

The Living Desert

Precursor do documentário subordinado à vida animal – que em muito influenciaria a produção televisiva da National Geographic –, e rodado em sumptuoso Technicolor, "O Deserto Maravilhoso" apresenta o quotidiano da fauna selvagem que habita no Sudoeste dos Estados Unidos da América. Em 2000, o filme foi selecionado para preservação pela Biblioteca do Congresso norte-americano.

"Perri" (1957)

Perri

Eleito o melhor documentário em competição no Festival de Berlim de 1958, "Perri" é outro fascinante exemplo do cinema documental da Disney, sendo um dos primeiros filmes do género a combinar um protagonista animal do "mundo real" (a saber, uma jovem esquilo fêmea) com um argumento de contornos ficcionais.

"O Senhor da Terra" (1959)

O Senhor da Terra

Filme de fantasia e aventura, realizado por Robert Stevenson (mais tarde, celebrizado por dirigir os números musicais de Julie Andrews em "Mary Poppins") e com um jovem Sean Connery no elenco, "O Senhor da Terra" é considerado, pela crítica moderna, como um dos mais completos – e menos conhecidos – filmes com chancela Disney da década de 1950.

A Família Robinson (1960)

Swiss Family Robinson

Segunda adaptação da Disney inspirada no livro infantil de Johann David Wyss (a primeira, a preto e branco, é de 1940), "A Família Robinson" conheceu grande sucesso popular e crítico na época de estreia, mas que, ao longo das décadas, deixou de ser citado como historicamente relevante na produção da Disney. Foi o primeiro título do estúdio rodado em formato panorâmico.

"As Duas Gémeas" (1961)

As Duas Gémeas

A história de duas gémeas idênticas, separadas à nascença, que se reúnem fortuitamente durante um acampamento de verão, "As Duas Gémeas" popularizou Hayley Mills junto do público internacional, sendo quase revolucionário no desenvolvimento dos efeitos especiais que permitiram à atriz "contracenar" consigo própria. O filme conheceu vários remakes ao longo dos anos, sendo mais conhecida uma versão de 1998, com Lindsay Lohan.

"No Reino das Maravilhas" (1961)

Babes in Toyland

Comédia musical e de fantasia, cujas sequências de música e dança inspiraram várias atrações nos parques temáticos da Disney, "No Reino das Maravilhas" é uma proposta leve e divertida, em ambiente natalício, e que tem sido gradualmente redescoberta pela crítica de cinema. Destaque para a presença no elenco da atriz Annette Funicello, um dos rostos mais famosos da versão americana de "O Clube do Mickey".

"O Fantasma de Barba Negra" (1968)

O Fantasma de Barba Negra

Comédia rocambolesca, em tom muito semelhante ao clássico "O Professor Distraído" (1961), "O Fantasma de Barba Negra" faz excelente uso do talento de Peter Ustinov, no papel de um fantasma constantemente embriagado e a braços com uma maldição lançada pela sua própria viúva. Foi um dos principais sucessos na bilheteira norte-americana da sua década, com uma faturação estimada de 20 milhões de dólares (cerca de 150 milhões, quando ajustados à inflação).

"Se a Minha Cama Voasse" (1971)

Se a Minha Cama Voasse

Outro filme do género fantástico realizado por Robert Stevenson, repleto de efeitos visuais cujos custos e complexidade, para a época, chegaram a pôr em causa a sua produção e respetiva estreia comercial, "Se a Minha Cama Voasse" é, contudo, um título que a Disney revisita frequentemente em adaptações teatrais e diversos lançamentos em DVD. Destaque para Angela Lansbury, antes de se "converter" na Jessica Fletcher de "Crime, Disse Ela", no principal papel.

"O Gato que Veio do Espaço" (1978)

The Cat From Outer Space

Um dos títulos de ficção-científica mais bizarros alguma vez saídos dos estúdios da Disney. A história de um gato abissínio extraterrestre que, acidentalmente, aterra no nosso planeta, "O Gato que Veio do Espaço" não conheceu adesão do público aquando da sua estreia, mas tem angariado um relativo estatuto de filme de culto junto dos apreciadores deste género cinematográfico.