Cartaz de cinema

Óscars 2015: no ano de "Birdman", faltou muito para a noite ser memorável

Publicado em 23 Fev. 2015 às 18:56, por Samuel Andrade, em Notícias de cinema (Temas: Oscars, Temporada de prémios)

Óscars 2015: no ano de "Birdman", faltou muito para a noite ser memorável

Na estreia como anfitrião, Neil Patrick Harris não conseguiu elevar o espectáculo além da mediania.

O Dolby Theatre foi palco, esta madrugada, da aclamação de "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)" como principal vencedor da 87ª edição dos Oscars da Academia, com o mentor do filme, Alejandro González Iñárritu, a arrecadar três estatuetas pelo seu trabalho como realizador, produtor e argumentista.

Referindo-se a Iñárritu, "Quem é que deu o visto de residência a este gajo?" foi o primeiro comentário (já polémico) que ocorreu a Sean Penn quando anunciou o Melhor Filme de 2014.

No entanto, e piadas à parte, a vitória de "Birdman" sobre "Boyhood – Momentos de uma Vida" (um filme com doze anos de produção e o mais arrojado entre todos os nomeados) foi o principal reflexo de uma noite dos Oscars pouco entusiasmante.

A falha em não premiar "Boyhood", uma obra que, muito provavelmente, continuará a ser estudada daqui a 10 ou 20 anos, revela também uma oportunidade perdida pela Academia em distinguir modelos de produção inovadores e/ou trabalhos criativos quase sem paralelo na História do Cinema.

Neil Patrick Harris, na sua primeira incursão como anfitrião dos Oscars, provou que sabe cantar e dançar e teve o seu momento alto numa feliz paródia a "Birdman", mas a sua presença nunca se revelou obrigatória para o ânimo dos espíritos no Dolby Theatre.

Desde a piada recorrente em torno das previsões que Harris fez antes da cerimónia - um número de que ninguém sentiria a falta caso tivesse sido eliminado - até às apresentações pouco inspiradas das vedetas que subiram ao palco, o humor bem sucedido foi raro.

 

 

Nesse campo, os melhores instantes vieram da vingança de Idina Menzel a John Travolta (ou "Glom Gazingo", tal como lhe chamou a intérprete), ou da emoção sem freio nos discursos de vitória de Eddie Redmayne (A Teoria do Tudo), do argumentista Graham Moore (O Jogo da Imitação) ou do realizador Paweł Pawlikowski (Ida).

Ao contrário de anos anteriores, a 87ª edição dos Oscars não escapou à referência de diversos temas controversos, nomeadamente a muito criticada ausência de diversidade racial e de género entre os nomeados. O emotivo discurso de vitória de Common e John Legend, pelo tema que compuseram para o filme "Selma", foi um dos momentos mais políticos da noite, levando inclusivamente os atores David Oyelowo e Chris Pine às lágrimas.

De forma semelhante, Patricia Arquette, Melhor Atriz Secundária por "Boyhood", clamou pela igualdade de direitos entre homens e mulheres nos Estados Unidos no seu discurso de vitória, causando uma das maiores ovações na passada madrugada – e ganhando um apoio total e efusivo por parte de Mery Streep.

No cômputo geral, tratou-se de uma cerimónia longa, morna e que dificilmente permanecerá como uma das mais memoráveis na história dos Oscars.

Não será por acaso que, no momento em que terminamos este texto, estejam a chegar informações de um significativo declínio no número de espectadores em comparação com cerimónias anteriores.