Cartaz de cinema

Onde verei este filme?

Publicado em 17 Dez. 2012 às 22:12, por João Pedro Lopes, em Notícias de cinema (Temas: Indústria cinematográfica)

Onde verei este filme?

Desde que a televisão apareceu em massa no pós-guerra, o cinema tem escapado a onda após onda de novos suportes e plataformas de consumo que concorrem com a tradicional ida à sala. O nosso escriba convidado, João Pedro Lopes, guia-nos por uma viagem através das mais recentes formas de ver filmes, disponíveis nos Estados Unidos.

Longe vão os tempos em que a sala de cinema guardava para si a exclusividade de trazer os filmes ao mundo e de ser a única forma de os ver durante um longo período.

O aparecimentos das cassetes VHS (vamos fingir que as Betamax nem existiram), dos clubes de vídeo, e posteriormente de formatos como o DVD ou o Blu-ray, traçaram um caminho no sentido de oferecer ao consumidor formas diversas de ver cinema. O objectivo sempre se pautou por aumentar a qualidade da imagem (beneficiando dos avanços tecnológicos nos dispositivos de som e imagem caseiros) e a variedade oferecida.

A massificação dos serviços de televisão por cabo também contribuiu para implementar a oferta de mais cinema, pelo menos em termos de quantidade, podendo até ter sido parcialmente responsável pelo declínio dos clubes de vídeo com o tempo. Durante todo esse processo, no entanto, o cinema nunca perdeu a primazia e raramente abandonou o charme da estreia.

A grande revolução acabou por acontecer de mão dada com a mudança no modo de consumo geral do audiovisual. Neste campo, o panorama audiovisual nos EUA procura estar sempre um passo à frente do resto do mundo, dado o vasto mercado de consumo que possui nesta área.

A preponderância da internet, o aparecimento dos tablets, das set-top boxes de televisão que são pequenos computadores e dos serviços de streaming em HD que se acoplam à televisão (como a Apple TV ou o Roku HD) foram o substrato para a explosão de múltiplos serviços de oferta de conteúdos que procuram ser acessíveis em termos de preços e apelar ao máximo conforto e mínimo incómodo de quem compra, bem como ao imediatismo da compra.

De entre estes serviços destaca-se, acima de todos os outros, o Netflix, um serviço que pode ser apenas de streaming, de entrega de DVDs, ou híbrido (custando $7.99/mês a primeira opção, $8.99/mês a segunda, e $11.99 a terceira). Na oferta de streaming, o Netflix permite ver um catálogo bem vasto de filmes e as principais séries de TV americanas (e algumas europeias), no computador, no tablet, ou na televisão através de dispositivos como a Apple TV, Roku HD ou XBox360, sem qualquer custo adicional para essa multiplicidade de plataformas. O serviço de DVD funciona praticamente como um clube de vídeo dos antigos, mas sem o gasto de energia da visita ao clube e com uma rapidez impressionante. O cliente cria uma lista de filmes que quer ver em DVD e a Netflix envia o primeiro DVD dessa lista (chega a casa no dia útil seguinte). Assim que o cliente vir o filme (contrariamente aos clubes não tem qualquer prazo para devolução), coloca o DVD num envelope com portes já pagos enviado pela própria Netflix, que chega no dia seguinte ao armazém da empresa, saindo logo nesse dia o DVD seguinte da lista em direcção a casa do cliente.

Em termos de streaming outros serviços concorrem com o Netflix, nomeadamente o Hulu (triunfa sobre todos os outros na disponibilização de episódios das principais séries logo no dia seguinte), o Vudu ou o Amazon Prime Instant Videos, tendo todos eles uma vasta oferta de filmes e séries, a maioria com qualidade HD, variando os preços conforme seja uma novidade ou um filme mais antigo. Também o iTunes permite a compra de vários filmes e episódios de séries em qualidade HD, que podem ser vistos no computador ou numa televisão com Apple TV. As próprias set-top boxes dos serviços de cabo oferecem serviços on-demand de filmes HD, que podem ser comprados e consumidos na hora, algo que neste caso também já está disponível na Europa.Sleepwalk With MeUma das grandes mudanças de paradigma prende-se com as estreias no cinema. Várias produtoras (sobretudo as mais pequenas e independentes), motivadas pelas fortes quebras de consumo de receita das salas de cinema, começam a oferecer a estreia simultânea do filme num circuito seleccionado (em vez de vasto) de salas de cinema e ao mesmo tempo em serviços de streaming on-demand, como foram os casos recentes de "Sleepwalk With Me" ou "The Comedy". Essa abordagem mostra que um dos caminhos para a sala de cinema tradicional pode passar por ser apenas mais uma oferta, devendo aprender a potencializar as suas vantagens, nomeadamente na qualidade e tamanho do ecrã e da sua clássica magia, que não desaparece de um dia para o outro.

The Comedy

Por último, existe ainda paralelamente uma aposta na qualidade em detrimento da pura quantidade. Nesse campo é de enaltecer um serviço como o Fandor, serviço de streaming semelhante aos acima referidos, mas dedicado ao cinema de produção independente, filmes clássicos e estrangeiros, seleccionados cuidadosamente por uma equipa de curadores, e com a particularidade de os produtores dos filmes observados receberem directamente parte da mensalidade que o consumidor paga.

Com toda esta oferta, cabe ao cliente entender as suas preferências, e escolher o que mais se adapta à sua forma de consumo. Chegou o dia em que é possível começar a ver um filme em casa na televisão, continuar a vê-lo a caminho do aeroporto, no telemóvel, e terminar de o ver no tablet ou computador no avião. Resta saber se com tanta opção não perdemos o fio à meada.

Sobre o autor: João Pedro Lopes é o autor do blogue Menos Pipocas que mantém com assumida e despreocupada irregularidade. Fã desde pequenino de tudo o que é audiovisual, vive e trabalha nos Estados Unidos. É o primeiro escriba convidado do filmSPOT.