Cartaz de cinema

"Cabra Marcado Para Morrer" nos cinemas portugueses em cópia restaurada

Publicado em 22 Nov. 2014 às 16:52, por filmSPOT, em Notícias de cinema (Temas: Estreias, Cinema da América-Latina)

"Cabra Marcado Para Morrer" nos cinemas portugueses em cópia restaurada

A Nitrato Filmes faz chegar às salas em cópia restaurada um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

A 3 de dezembro de 2014 cumprem-se 30 anos sobre a estreia de "Cabra Marcado Para Morrer", de Eduardo Coutinho, considerado um dos melhores filmes brasileiros de sempre.

A Nitrato Filmes vai assinalar a data através da reposição do filme em cópia restaurada. A estreia terá lugar em seis cidades: Lisboa, Porto, Aveiro, Évora, Beja e Faro.

Para além do valor como peça da cinematografia mundial, "Cabra Marcado Para Morrer" transporta consigo a narrativa de uma produção atribulada e perigosa, separada por décadas e acontecimentos marcantes da história brasileira.

Tudo teve início em 1962. Eduardo Coutinho fazia parte de um grupo de jovens artistas e cineastas, dedicado a viajar pelo Brasil com objetivos pedagógicos, para estimular o aparecimento de centros de disseminação cultural.

O governo do presidente João Goulart tentava, na altura, implementar um ambicioso plano de reformas progressistas.

Em abril, Coutinho estava a filmar no Estado da Paraíba, parte da empobrecida região nordeste do Brasil, quando deparou com um protesto contra a morte do líder camponês João Pedro Teixeira, assassinado a tiro por três homens a soldo de um latifundiário local. A viúva, Elizabete Teixeira, era uma das figuras mais interventivas no comício.

Surge então o primeiro obstáculo ao projeto. Uma escaramuça entre a policia e os trabalhadores locais faz 11 mortos. As filmagens em Sapé tornam-se impossíveis.

Coutinho muda a equipa para o engenho Galiléia, no estado de Pernambuco, onde nascera, em 1955, a primeira Liga Camponesa do país. Em 1964, o engenho era habitado por uma comunidade de camponeses que havia lutado durante vários anos pela sua desapropriação.

Elizabete acompanha-os. Vários camponeses são contratados para compôr o resto do elenco e têm início as filmagens enquanto o clima político começa a deteriorar-se rapidamente.

Surgem manifestações da classe média apoiadas pelos conservadores. Há agitação nas forças armadas e o governador de Pernambuco, o esquerdista Miguel Arraes, é deposto.

Na noite de 31 de março de 1964, acontece o golpe militar. A equipa é forçada a esconder-se. Só 40% do guião foi filmado. Os negativos e restante material são colocados em lugares seguros.

Eduardo Coutinho só regressa a "Cabra Marcado Para Morrer" em 1979, quando alguém lhe fala nos filhos de João Pedro e Elizabete. Em 1981, decide voltar a olhar para os mesmos lugares e pessoas, mostrar o que aconteceu naqueles anos e tentar reunir a família do ativista assassinado.

Uma projeção do material em bruto, filmado em 1964, serve de ponto de partida para a nova encarnação do filme.

O realizador fica a saber que Elizabete viveu na clandestinidade, sob um nome falso e sem notícias de oito dos seus 11 filhos. Um deles sofreu um atentado à bala enquanto ainda era criança, outro suicidou-se aos 18 anos, oito meses após a morte do pai.

O filme estreia no primeiro Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, em 1984. Ganha os prémios mais importantes e inicia uma carreira de grandes resultados por certames internacionais.

No ano de 2000, cerca de 40 especialistas no género documental, entre cineastas e críticos, pronunciaram-se a respeito dos dez melhores documentários brasileiros de todos os tempos. "Cabra Marcado para Morrer" foi o mais votado. Ultimamente, a obra de Eduardo Coutinho tem aparecido com frequência nas listas dos 10 melhores filmes de sempre da história do cinema brasileiro.